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sábado, 25 de agosto de 2007

Paixão dos torcedores baianos garante recordes no futebol













Por Davi Boaventura

Os times são modestos, os jogadores têm pouca fama e as partidas não são das mais bonitas. Para os torcedores do Bahia e do Vitória, no entanto, estes são apenas pequenos detalhes. Mesmo disputando pelo segundo ano consecutivo a Série C do Campeonato Brasileiro, o porão do futebol nacional, a torcida tricolor não se cansa de lotar as arquibancadas da Fonte Nova. A equipe é dona dos três maiores públicos da competição e a melhor média, com 29.362 pessoas por partida. O Vitória não fica muito atrás e garantiu a segunda melhor média da Segundona, ao levar 14.236 espectadores por jogo ao Barradão, atrás apenas do próprio Santa Cruz.

No pódio das torcidas nas três divisões, o time do Fazendão supera dois pernambucanos. O Sport, que leva 25.810 torcedores por jogo da Série A, e o Santa Cruz - PE, com 25.763 pagantes nos confrontos da Série B. O Flamengo e o Corinthians, clubes com as maiores torcidas do país, ficam longe no ranking. A equipe da Gávea tem a quinta melhor média da elite do Brasileirão (18.078 pessoas por partida) e o Timão está na sétima posição (17.036). O atual campeão São Paulo também não tem atraído seus torcedores. A média do tricolor paulista é apenas a 10ª melhor da primeira divisão. São 15.260 são-paulinos em cada partida no Morumbi.

Os adversários pouco importam. "É algo muito maior. É uma paixão que só entende quem está lá, pulando e gritando", afirma o estudante universitário Eric Carvalho. "Não existe nada melhor do que gritar gol com uma Fonte Nova lotada, abraçando pessoas que você nem conhece", completa. Rubro-negro de carteirinha, Alisson Gomes é daqueles que procura não perder os jogos do time de coração. "Quando eu não vou ao jogo, parece que está faltando alguma coisa”, conta.

Para apoiar a equipe, os torcedores não poupam esforços. Eles chegam a viajar para assistir às partidas fora de casa. "Sempre que dá, eu vou. É bom, você se desliga dos problemas, vira criança de novo", declara o tricolor Ricardo Oliveira. O clima de festa e amizade contagia até mesmo os adversários. "Eu tenho dois amigos que torcem pelo Vitória que sempre vão comigo à Fonte", aponta Ricardo.

Apesar da fidelidade, as reclamações não são poucas. Os cambistas são um dos principais problemas na vida dos torcedores. "Você chega e eles já compraram tudo. Depois, querem vender pelo dobro do preço. Muita gente fica de fora e não pode ver o espetáculo", lamenta o servente Vanderlei Conceição. As condições do estádio e o acesso também não agradam. “Na saída, não tem jeito, é engarrafamento mesmo”, reclama o rubro-negro José Luiz Neves. As queixas não param por aí e vão desde a conservação da estrutura física do estádio aos problemas técnicos. "O Bahia ficou três meses sem jogar na Fonte Nova e, quando voltou, o placar eletrônico não funcionava", relembra o contador Ricardo.

Pé-quente - A casa cheia tem surtido efeito no desempenho das equipes e os resultados não deixam dúvidas. O Bahia tem a melhor campanha da Série C e está praticamente classificado para a próxima fase da competição. Já o Vitória conseguiu oito triunfos e apenas duas derrotas em seus domínios. "Muitos dos bons resultados são devido ao torcedor. Eles ajudam a intimidar o time adversário", aponta o goleiro do Bahia, Márcio.

O também tricolor Cleber se diz impressionado. "Eu já joguei em vários times de massa, mas aqui você nota que é diferente", observa o meio-campista. “É a maior alegria do jogador”, completa o atacante rubro-negro Sorato. “Marca a carreira da gente”, pontua. Mas, e se as equipes não conseguirem as classificações para a divisão seguinte? "Eu posso dizer que não vou mais aos jogos", afirma o estudante Eric. Mas as promessas acabam ficando no papel. "No ano passado eu falei a mesma coisa e na primeira partida eu estava lá de novo”, brinca.

http://www.atarde.com.br/esporte/noticia.jsf?id=782817

Matéria publicada também no Jornal O Globo

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